
TRAJETÓRIAS PARA O REAL
Do nosso encontro e abertura
O céu como guardião do real. Como essa afirmação pode nos ajudar a entender melhor sobre a conexão entre o céu e nossos sentimentos? Para isso, torna-se, de antemão, importante resgatar dois importantes personagens desta história: a emoção e a razão, não dicotômicas, mas eternamente ambivalentes. Afinal, percebe-se na exaustiva tarefa humana de guiar-se pela razão, os gritos abafados do sentir.
A relação entre emoção e razão, lembramos, não é de complementariedade, a la, yin-yang. A problemática não está na assimetria da interação entre o sentir e o pensar. Se assim fosse, não haveria nada de preocupante ou de sanável. O desequilíbrio, na perpetuidade, se ajusta. O que parece ocorrer, na verdade, é que existem trilhos não paralelos desde a origem.
Um deles, em que vai a locomotiva do sentir, chegará a um destino totalmente diverso daquele trilho incumbido de levar a razão. E o mais importante: o que se vê da janela do trem, a versão do mundo que se apresenta ao seu tripulante, seguirá as escolhas daquele trilho específico. Ou se percebe o mundo pela razão, ou se percebe o mundo pelo sentimento.
A razão é centrípeta, de fora para dentro. É rotação, gira em torno de si. Coa o mundo e quase nunca bebe seu extrato. O deixa evaporar enquanto devaneia sobre seu sabor, seus efeito, origem e composição. E, quando bebe, por mais que inexplicável, engasga. A razão faz pouco com muito. Já o sentimento, faz muito com pouco. O infinito a partir do nada. É centrífuga. É translação, é movimento real, não imaginário. O sentir é capaz de alterar o passado e de farejar o futuro. Transporta para o nosso lado pessoas, estejam distantes em milhas ou mundos. Tem a simplicidade e a humildade de quem não precisa controlar, apenas estar presente na estação, no ato de escolha sobre qual trem tomar.
Nesta bifurcação, não pretendemos apresentar um manifesto contra a razão, certamente. Talvez entendam assim, e não há como e nem porquê controlar interpretações. Ísso, isso tem a ver justamente com não controlar. Não a perda do controle, que advém de derrota, de tentativa fracassada; mas de entrega do controle, salienta-se. Não de doação, mas de descarga. Tal ato poderia apresentar-se como uma possibilidade verdadeira de escolha sobre qual caminho rumar, de abrir-se ao acaso e enxergar nele sua própria razão, aqui devidamente justaposta, de ser.
Imagens podem nos levar a esta estação central, um habitat do presente. Nela, abraços celestes podem aderir a universos particulares e aceitar o convite à conexão, a possibilidade de perceber-se, mesmo que por um instante, mesmo que com auxílio da razão. Alcançaríamos, quiçá, mais perguntas, ou menos respostas, sobre como essas composições avivam o que há em nós? Saberíamos enxergar para onde nos levam cada um desses trilhos? Conseguiríamos desvencilhar-nos por segundos da razão e abrir-nos?
A certeza quanto a impossibilidade de termos uma resposta única a tais perguntas dará sentido a este lugar, de modo que caberá, a cada qual, escapar da competição pelo exato. Saber as almas, saber de si, de seus céus, de seus sóis, de seus rumos e bússola. Sentir, distanciando-se da necessidade de saber, de controlar pela razão, ou seja, de partir sempre pelo mesmo trilho.
Vogais e consoantes serão, todas elas, acessórias, muito embora estejam posicionadas de maneira não aleatória. Não há errado; não há certo. Não há pensamento dual, busca-se tudo menos a transformação de sensações em ideias enquadráveis em conceitos prévios. Entende-se apenas que, tal como a proposta darwiniana comuta aos homens e animais a mesma singularidade de emoções, a força da natureza não é racionalizável. Ela apenas é. Podemos acessá-la e transformá-la em real. Desde que reconheçamos, ao parar de buscar, outras trajetoriasparaoreal.